Gente Honesta e Esforçada – Sobre Asperger e Síndrome de Manada (Mais um texto detestável).

Publicado: 8 de novembro de 2016 em Sem categoria

(Aviso: O texto abaixo não é recomendado para haters ou haters incubadas)

Recentemente estou revendo meu olhar sobre o meu filho e por consequência sobre mim mesma. Mas é uma revisão um tanto inflexível e que retorna ao mesmo ponto, só se reelabora para abarcar “novas leituras”, ou leituras anteriormente desprezadas.

Primeiramente, preciso dizer algo que aparentemente é irrelevante. Sou intolerante ao glúten e só aos 30 anos pude descobrir isso e tirar o véu dos meus olhos e minha mente. Nesta mesma época eu já era vegana e tinha cortado o leite (caseína para quem já pode entender por que cito isso), e foi justamente o veganismo que quase me matou, porque passei a comer carne de glúten, seitan. Tudo que já era ruim, ficou vertiginosa e dolorosamente pior. Há males que vem para o bem. Eu estava tão desesperada e frustrada com as dores e os ataques de letargia (desfalecimento) que após muita relutância fui seguir a tal dieta sem glúten, mais como forma de dizer “eu tentei de tudo”. Fim deste parágrafo.

Bem, meu filho tem 15 anos. Ele está fazendo terapia e estou revendo a leitura de que ele tenha autismo de alta funcionalidade, síndrome de Asperger. Eu tenho uma implicância gratuita com esse tipo de classificação porque meus namorados tentavam me enquadrar nisso. A implicância é tanta que por capricho aderi à astrologia, pois achei a leitura o mesmo tipo de “bosta”. Acho ambas pseudociências.

Não é fácil me entender, mas lá no final eu fecho o círculo.

Ser mãe é ter o cabelo puxado pela sociedade, o tempo todo. Ser mãe lúcida é ter o útero perfurado não apenas pela sociedade, mas pelas outras mães e pelos seus filhos.

Então, tive que reler sobre síndrome de Asperger para entender meu filho. E lendo um blog de uma mãe de uma “aspie”, me deparo com o relato dela de ter que se admitir aspie também, já bem velha. Acho que ela até disse que o diagnóstico tardio era tarde demais, apenas explicava que o erro não era ela. E ela dizia que a síndrome era genética, passada de mãe para filho. Ou seja, meu filho, se ele der cria, ele não passará esses “genes” para seus filhos. E como eu não tive filha, o carma da minha linhagem está rompido.

Bem, eu li um artigo que ela deixou no blog, um artigo traduzido http://mulheraspie.blogspot.com.br/2014/01/mulheres-aspies-mulheres-adultas-com.html

de uma psiquiatra que era doutora em autismo. E fui lendo e lendo. Muitas coisas batiam. Mas como eu já disse, eu me enquadro muito mais no que é chamado de Transtorno de Personalidade Esquizoide. Sendo um dos sintomas a relutância em fazer terapia. rs
Vou enumerar aqui apenas alguns elementos:

Tende a ter inteligência de acima da média a excepcional, frequentemente (mas não sempre) com divisões significativas entre as habilidades de raciocínio verbal e perceptual, velocidades mais baixas de memória de trabalho e/ou processamento, dificuldades de aprendizagem (por exemplo, discalculia, dislexia, dificuldade na compreensão de leitura).

  • Memória de longo prazo mais forte.
  • Memória de curto prazo mais fraca.
  • Pode se perder facilmente no campus, perder objetos, chegar atrasada para classes ou provas.
  • Preferência por interações sociais um-a-um, tendo uma única amizade próxima.
  • Precisa de mais tempo afastada de pessoas do que seus pares (solidão).
  • Pode ficar confusa em situações de grupos sociais.
  • Prefere conversar sobre seus interesses especiais.
  • Realmente não gosta de ‘papo fiado’ ou conversas que não possuem uma função ou propósito.
  • Histórico de sofrer bullying, ser provocada, deixada de lado e/ou não se adequando a colegas de mesma idade, a menos que ela tenha amigos Aspies.
  • Forte antipatia por conversa fiada, fofocas, coisas sem sentido, mentidas.
  • Desgosto intenso por mentiras, apesar de poder mentir.
  • Tem habilidade em socializar, mas é incapaz de o fazer por longos períodos de tempo. Sofre de “exaustão social” ou de uma “ressaca social” quando socializa por muito tempo. A ressaca pode durar de algumas horas a alguns dias, o que pode ser debilitante.
  • Tem grandes dificuldades em conflitos, discussões, quando alguém grita com ela, brigas, guerra.
  • Tem muita dificuldade em se afirmar, pedir ajuda, estabelecer limites.
  • Pode precisar beber para ser sociável.
  • Pode ter atualmente ou no passado transtorno de estresse pós-traumático, por ser mal compreendida, mal diagnosticada, maltratada e/ou medicada erroneamente.
  • Diferentes habilidades sociais — é excepcionalmente boa em conversas um-a-um e apresentando para grupos, mas tem dificuldades trabalhando em situações de grupos.
  • Pode se achar em situações sociais ou relacionamentos em que ela se sente infeliz, mas não sabe como sair deles.
  • Histórico de outros tirarem vantagem dela, apesar de ela seguir apropriadamente os conselhos de negócios, legais ou sociais das outras pessoas.
  • Frequentemente entediada em situações sociais ou festas e/ou não sabe como agir em situações sociais.
  • Pode aceitar ir em eventos sociais, e mais tarde inventar uma desculpa do porquê ela não pode ir, frequentemente ficando em casa sozinha.
  • Frequentemente prefere se dedicar ao seu interesse especial, ao invés de socializar.
  • Outras pessoas a consideram differente, estranha e excêntrica.

Vou parar por aqui porque é dez vezes isso de “sintomas”.

Ok.

Não foi a primeira vez que li sobre síndrome de Asperger, masculina, e nem a feminina. Eu estou num grupo de aspie no facebook, por influência do meu ex-namorado, em inglês, porque na época não existia em português. Eu curto uma página de mulheres com asperger. Enfim, não era a primeira vez que eu tinha lido a respeito, mas a minha reação foi comicamente (porque eu morro de rir de mim mesma, só que internamente) a mesma.

Aliás, uma das características que concordei nessa lista foi:

  • Ótimo senso de humor.

Eu tenho um ótimo senso de humor. Mas ele é muito desajustado do mundo. E raras pessoas se adéquam a ele. Geralmente meus namorados que se encaixam nele, por hábito de convivência.

Mas, minha reação foi a mesma. E eu ri dela. Foi a mesma reação. Isso é tão fiável quanto astrologia. Meu mapa me define mais (sol e lua em Áries, marte em escorpião e vênus vergonhosa). Fui dormir e no dia seguinte acordei com uma tese na cabeça.

A tese dos desviantes e dos com síndrome de manada.

Sobre os Desviantes e os com Síndrome de Manada.

Não é a primeira vez que falo disso, síndrome de manada. Isso tá no volume dois, do Projeto Reset, por exemplo. Mas é recente a minha aderência ao termo desviante.

Eu to namorando, e não quero largar meu namorado, não sem antes esgotá-lo intelectualmente. Quando a gente ficou pela primeira vez, eu achei ele tão estranho, que eu tive a certeza de que estava diante de um autista. Eu disse isso a ele. Ele demorou muito pra me beijar, ele tava frio. Eu estava puta. E beijei ele. E achei horrível. Fiquei puta. E eu disse “você precisa parar de alternar o beijo, isso me irrita, às vezes você beija bem, mas depois você quer mudar, argh!”. Eu tava puta mesmo. E ele concordou que estava fazendo isso. E na segunda chance ele me beijou na moral. Mas ele é só mais um cara desajustado que se atraiu por mim. Típico. Eu atraio esses tipos. Já tô acostumada. Mas para mim ele tem autismo de tão estranho que eu acho ele. Me lembro de ter perguntado “você consegue se comunicar com a sua mãe?”. E ele disse que sim, normalmente. “Ela parece te entender?”. E ele disse “nossa, Keli…”. Daí eu pensei “ah, então é uma questão de familiaridade”. Meu filho também é assim… Ele conversa bem comigo…

Bem, acontece que eu tenho uma amiga que disse que é aspie, e que fazia sentido meu filho ter asperger porque ele lembrava ela pela forma que eu o descrevia. Meu filho é o oposto de mim. Eu padeço de excesso de franqueza. Eu gasto muita energia mentindo. Eu minto, óbvio, mas não gratuitamente, só se for muito necessário. Tipo, quando alguém pergunta quanto eu ganho e essa pessoa tem baixa escolaridade e não quero lhe dar um fora. Sou didática. Mas na verdade, acho que nunca menti sobre isso, foi um exemplo aleatório. Só que eu e meu filho somos muito diferentes. Mas se você vê-lo vai me ver nele. A frieza e o jeito de falar.

Daí eu mandei a minha tese sobre síndrome de autismo, astrologia e síndrome de manada.

É bem simples. Todos esses diagnósticos falham por vício de pós-modernidade da ciência e da medicina. O que acontece é o seguinte. Existem dois espectros de seres humanos, os desviantes (adolescentes) e os com síndrome de manada. Os com síndrome de manada não são pensantes, são reprodutores de pensamento. Eles só seguem normas e grupos, com poucos desvios (por isso é espectro, pois ninguém é 100% desviante ou 100% manada). E por que fazem isso? Para se poupar energia. Por facilidade cognitiva. Pensamento crítico e analítico cansa.

Os desviantes são rebeldes, questionadores. E eles tomam dois caminhos: ou o da mentira, e ou o da honestidade excessiva. O que une ambos nesta classificação é o desajuste, a inconformidade com a manada, com as convenções sociais, a tentativa de pensar por si próprios. É uma questão de caráter cognitivo mesmo.

Os que seguem o caminho da mentira, estão fugindo de um hábito muito nocivo da manada, o do bullying. A didática da manada é essa, bullying social, pois não há lógica a ser defendida no pensamento dela. Antes o problema da manada fosse apenas seguir e reproduzir as normas e convenções cegamente. Não. A manada infelizmente não é um mero agente passivo. Ela é grande defensora do que segue. Ela é religiosa, dogmática. Dogmas não se questionam. Dogmas são seguidos e reproduzidos com base na fé. A fé é crença sem questionamento, sem necessidade de evidências daquilo que se segue ou defende. E a manada tem essa relação com a norma, defendê-la e coagir todos a fazer o mesmo. Então, ela pratica a penalidade. O bullying.

Dependendo do seu espectro, você pode ser um grande desviante, mas vai desenvolver dois mecanismos de sobrevivência que vai caracterizar sua personalidade. Mentir ou buscar a verdade.

Os desviantes mentirosos mentem porque querem praticar a liberdade sem sofrer as consequências do bullying social. Eles desistem de se contrapor ao poder da sociedade e se engajam numa vida de máscaras. Quanto mais desajustado, mas se tenta corrigir isso com mentiras. E isso pode virar um vício. Mas esse tipo pode ser também hipócrita ou oportunista e ver uma forma de lucrar com as consequências da síndrome de manada, pois um mercado acaba existindo.

Os desviantes francos seguem o caminho de maior gasto energético, de defender seus desvios e sofrer as consequências do bullying social. Este bullying gera uma reclusão social que acaba os tornando seres introspectivos e altamente reflexivos. O distanciamento da manada os favorece. São autodidatas e com forte inabilidade social. Isto pode se tornar um vício, uma bola de neve.

Daí esses espectros de desvios podem ficar intensos e os efeitos colaterais vão surgindo.

O desajuste social longe de ser uma doença, é fruto da variedade genética e causa da nossa complexidade cognitiva enquanto espécie.

O erro da medicina é não admitir que o sistema de normas sociais é uma grande fábrica de seres com transtornos psíquicos fruto da falta de inclusão e aceitação na sociedade e ver os desviantes como defeituosos que devem ser corrigidos com drogas. Pois nestas avaliações, substâncias hormonais são identificadas em excesso, geralmente hormônios de estresse.

Não considero conflituosa o fato de que alimentos inflamatórios como a caseína, o açúcar em excesso, os vegetais com agrotóxicos ou o trigo (que pertence a uma flora local do planeta) não agrave o quadro de desequilíbrio hormonal e de produção de anticorpos afetando o cérebro.

As drogas elas são lançadas no mercado para contrapor a produção ou não produção dessas substâncias ou bloquear a ação dessas mesmas. Mas o nosso organismo tem uma organização sistêmica, e geralmente quando tentamos alterar a produção de uma substância, afetamos a produção de outra que pode afetar a produção de outra, tal como acontece no ecossistema quando um animal ou uma espécie botânica é extinta.

A solução então seria a coexistência pacifica entre os com síndrome de manada e os desviantes. Os com síndrome de manada deveriam deixar a gente em paz e parar de praticar bullying social.

Mas, claro que as normas mesmas são constituídas de uma ampla defesa de existência. E não é só porque alguns indivíduos se desviam delas que ela não tem uma justificativa democrática de existência. Então, eu me limito a não discutir soluções para tudo isso. A solução todos já sabemos, a síndrome de manada que tem que parar, saca? Mas facilidade cognitiva é um vício porque é sobre comodismo. Comodismo vicia. E todos organismo vivos parecem seguir a lei de menor esforço…

A natureza é bizarra. E sobreviver não é fácil. Mas o efeito colateral disso tudo é que o grau de mentirosos e mentiras é intensificado.

Eu não acredito nesse rol de classificações de doenças. Eu entendo e aceito o autismo clássico, não tem como negar sua existência e seus sintomas que vão além da existência de uma sociedade tóxica e alimentos tóxicos (dietas antiinflamatória alivia significativamente os sintomas de autismo), mas o autismo em si pode ser um quadro de transição entre os seres humanos de hoje e os mais adaptados para todo esse quadro incerto. Complexo demais definir rumos para a humanidade.

Não estou negando a existência de doenças genéticas, mas questionando se todas as manifestações genéticas são mesmo doenças, e não apenas um mecanismo de sobrevivência da espécie. Afinal, se há uma manada indo em direção ao precipício, que mais seguro não seria haver indivíduos que conseguem se colocar de fora e ter um olhar crítico e uma postura resistente àquele rumo?

Acho que minha personalidade não é um transtorno, mas uma construção sólida de um indivíduo que nasceu questionador e ao mesmo tempo interessado na busca pela verdade, acima da aceitação social. Conviver com a manada não é fácil, ela te ataca ferozmente quando você resiste a vestir as máscaras que ela exige de você, mas somos seres humanos, cérebro plástico e organismo adaptável a adversidades diversas, inclusive reclusão e solitude.

Não aderir à crença de que você é um problema justamente por ser desvio pode ser mais que um ato de resistência, mas de reserva genética da continuação de uma espécie em autoextinção. Quem sabe?

Sobre meu namorado e meus laços, eu agora tenho como meta para 2017, ser o mais antissocial possível (elas me acusarão de arrogante, eu ligo o foda-se) e só me unir a quem está disposto a se provar honesto (intelectualmente) e esforçado. Gente honesta e esforçada. Este é o apartheid social que estou criando em minha própria vida. Gente honesta e esforçada. Coisa de uma verdadeira ariana.

Descrição de Áries

O ariano é uma pessoa cheia de energia e entusiasmo. Pioneiro e aventureiro, lhe encantam as metas, a liberdade e as idéias novas.

Os arianos gostam de liderar e preferem dar instruções a recebê-las. São independentes e preocupados com sua própria ambição e objetivos. Têm uma energia invejável, que às vezes lhes leva a ser agressivos, inquietos, argumentativos, teimosos.

comentários
  1. Gustavo disse:

    Olá, esse é o primeiro texto que estou lendo nesse site e gostei muito. Eu tenho 22 anos e embora não tenha um diagnóstico da síndrome devido burocracias médicas(raça q só quer saber de dinheiro) me enquadro em absolutamente todas as características e sintomas, além dos acontecimentos e situações que ja passei em minha vida que apontam pra um quadro de autismo. Estou passando pra dizer que queria ter a mesma sorte do seu filho, em ter uma mãe compreensiva e que se esforça pra entende-lo. A minha mãe, embora eu sempre tenha dado o meu melhor, trabalhando desde os 16 anos de idade pra não ser um parasita em casa e tentando demonstrar meu amor e gratidão (exceto por ter sido colocado nesse mundo de tortura) capitalista) não me compreende de jeito nenhum e só me julga, as brigas e discussões nunca cessam, infelizmente. Você já presenciou algum acesso de raiva, que é uma característica do aspie, em inglês é chamado ‘meltdown’ no seu filho (nesses acessos a pessoa grita, bate em coisas ou agride a simesmo, numa tentativa inconsciente de aliviar a dor mental engatilhada por alguma situação estressante, em que se sente injustiçado)? Caso positivo, a chance dele se enquadrar no espectro do autismo é alta viu… (mas autismo n
    ao é doença e sim uma pequena diferença neurológica, a maioria dos gênios e pessoas que marcaram seu nome na história eram autistas) quando esses acessos de raiva acontece comigo eu fico a beira do suicidio, o não-acesso a uma arma de fogo é o que me mantém vivo. Enfim, gostei do site, simpatizo muito com a causa feminista e estou prestes a tomar vergonha na cara e aderir pelo menos ao vegetarianismo logo.(quem sabe ao veganismo tambem). Parabéns pelo blog, desejo tudo de bom pra você e seu filho.

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  2. mylow disse:

    Julgar pessoas pelas posições das estrelas não me parece algo muito honesto intelectualmente.

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  3. […] Tende a ter inteligência de acima da média a excepcional, frequentemente (mas não sempre) com divisões significativas entre as habilidades de raciocínio verbal e perceptual, velocidades mais baixas de memória de trabalho e/ou processamento, dificuldades de aprendizagem (por exemplo, discalculia, dislexia, dificuldade na compreensão de leitura). À MARGEM DO FEMINISMO […]

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